Já faz mais de um ano que venho mergulhando no tema “redes sociais e saúde mental”. Tudo começou depois que li Minimalismo Digital e Indistraível.
Esses livros abriram uma janela na minha mente: percebi o quanto eu pegava o celular sem pensar, abria o Instagram sem motivo e seguia gente ou salvava links que nunca mais iria ver. Era como se meus dedos se movessem sozinhos, guiados por um piloto automático invisível.
Comecei a observar mais. Ler mais. Ouvir podcasts. E notei algo curioso: a maioria de nós vive nos extremos.
Os Extremos e a Ilusão do Controle
No Reddit, por exemplo, existem comunidades como nosurf e digitalminimalism. Lá, muitas pessoas tratam as redes sociais como se fossem um veneno, destruidoras de vidas e lares. Curiosamente, para elas, passar horas no próprio Reddit não é problema…
Não falo isso como alguém que está “acima” disso tudo. Pelo contrário. Foi nesse período que descobri um conceito da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) que mexeu comigo: o pensamento dicotômico, ou como dizem, o “8 ou 80”.
Esse modo de pensar age como uma corrente subterrânea na minha vida — silenciosa, mas sempre me puxando para os extremos.
O “8 ou 80” em Outras Áreas da Minha Vida
Isso não se aplicava só às redes sociais.
Anos antes, eu me divertia explorando o mundo do Linux. Para quem não sabe, existem centenas de distribuições. E o que minha mente de “8 ou 80” fez com isso?
Transformou um hobby leve numa obsessão. Eu precisava encontrar “o melhor” sistema operacional. Era X ou era Y. Não havia meio-termo.
Resultado? Formatei meus computadores incontáveis vezes e tentei padronizar todos os PCs da casa com o mesmo sistema. Cansativo. Até que um dia percebi: eu poderia usar diferentes sistemas para diferentes funções. Parece óbvio, mas para minha mente, foi uma revelação.
Depois veio outra fase: “qual é o jeito certo de estudar?”. E adivinha? O mesmo padrão se repetiu. Sempre em busca da “melhor” forma. Sempre no “tudo ou nada”. Isso suga energia. É exaustivo.
O Grande Dilema das Redes Sociais
E agora estou aqui, nesse capítulo sobre redes sociais.
- Qual devo usar?
- Quantas pessoas seguir?
- Quanto tempo passar nelas?
O equilíbrio parece errado para um pensamento como o meu. É como se o meio-termo fosse um lugar suspeito, e o cérebro preferisse o preto ou o branco.
Os livros que li plantaram um filtro muito rígido na minha mente. Quase um dogma: aproveitar 100% da tecnologia, ser ultra-produtivo, nunca desperdiçar tempo.
Com isso, comecei a revisar minhas redes. Cortei seguidores, apaguei páginas, limpei tudo. Sobrou quase nada.
No Instagram, deixei apenas pessoas próximas. Algumas redes abandonei completamente. E, numa dessas, até influenciei minha namorada a excluir apps como TikTok. Depois me senti mal por ter feito isso.
E então o “80” se transformou no “8”.
O Ciclo Sem Fim e a Fadiga Mental
O vazio da timeline fez o algoritmo me oferecer lixo: fofocas, política sensacionalista, vídeos que não me interessavam. E veio o impulso de seguir tudo de novo.
Ciclo sem fim.
Isso cansa. Não só o corpo, mas a mente.
A Solução: Agir Como Um Cientista
Foi aí que lembrei de uma das propostas da TCC: agir como um cientista.
Testar hipóteses. Observar resultados.
Meu experimento atual é simples:
- Permitir-me usar qualquer rede social.
- Seguir o que parecer interessante.
- Se um dia não fizer sentido, basta remover.
- Entender que não consigo acompanhar tudo e aceitar isso.
- Pensar que, se precisar de algo, sempre haverá um “catálogo” à disposição.
O resultado? O algoritmo voltou a me mostrar coisas boas. Minha cabeça parou de girar em torno desse assunto.
E Os Livros Estavam Errados?
Não.
Eles não pregam a demonização da tecnologia. Eles nos convidam a refletir: você está no Reels porque quer ou porque caiu nele sem perceber?
Eles lembram que a distração não vem das redes. Vem de dentro.